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Escrever e escrever, pensar, refletir... afinal não é para isso que existem os blogs? Por aqui vão passar ideias, palavras, pensamentos... tudo o que nos der na real gana... ou não seremos "Levada da Breca".

Só posso saber quem sou e para onde vou, sabendo de onde vim.
Escreveu para todos eles, entre 1964 e 1987, com maior incidência entre 1974 e 1975.
Para os mais distraídos, o espaço temporal coincide com a entrada em decadência do regime Salazarista (no início da década de sessenta), queda do Estado Novo e a Revolução dos Cravos.
Não por acaso, mas exatamente porque assim tinha que ser. A minha avó, uma então Senhora, à época, dona de uma paixão que não lhe era permitida, mas, pelo contrário, oprimida, abafada e silenciada, o jornalismo, vivia em segredo a sua liberdade: a que a escrita lhe permitia. Entre palavras, tudo podia ser, até o que não era, ou quem não era. Prova disso são os muitos artigos que não assinou.
O desejo de uma Mulher, ser jornalista e livre, viria a ser a sua maior prisão. Num antagonismo vicioso que a acompanhou até ao seu último dia.
Também em segredo, na maioria das vezes, mantinha a sua grande admiração por Mário Soares. Os artigos que não redigiu, recortou e guardou, os jornais para onde não escreveu, comprou e colecionou, as palavras que não libertou leu e deixou... numa compilação de História agora descoberta.
Conhecer as nossas raízes e aqueles que nos antecederam, permite-nos uma melhor compreensão das gerações seguintes, onde nos incluímos. O modo como olhamos a História, assim como a conexão que travamos com ela, facilita-nos a narrativa identitária, autêntica e fundamental à compreensão do "eu". Ninguém nasce de geração espontânea.
Na vida, há sempre um futuro que nos leva ao passado.
É certo que a tendência de nos projetarmos além, é muito mais forte do que o nosso desejo e interesse em olhar para trás. Acreditar que os nossos pais, avós, bisavós, por terem vivido épocas diferentes, não têm nada para nos ensinar é absolutamente falacioso. São eles que nos dão, muitas vezes, se assim o aceitarmos, as ferramentas para melhor entender a nossa experiência e desafios presentes. (Também os futuros).
Claro que, cada época influenciará, em parte e de formas diferentes, maneiras de ser e estar. Condicionalismos distintos, mas com desafios tantas vezes iguais. Caminhos contínuos, mesmo que pertença, a alguns, a intenção deles se desviar.
A compreensão do ontem, a janela do amanhã.
Escreveu José Mário Branco, "Eu vim de longe/ De muito longe/ O que eu andei p'ra'qui chegar".

A morte de Jorge Coelho, fez-me recordar alguns episódios, das vezes que me cruzei com ele em trabalho. Pessoa simpática e acessível, tinha sempre uma laracha para quem quer que fosse, e também para os jornalistas, com quem procurava manter (e mantinha) boas relações.
Numa deslocação a Idanha-a-Nova, não recordo o porquê, o almoço decorria numa unidade de restauração da vila, poucos dias depois da queda da ponte de Entre-os-Rios. Tudo muito fresco, ainda, e os nacionais a preocupavam-se mais com o tema, que os regionais, mais atentos, sem dúvida ao que o trazia à região.
Depois do repasto era chegada a hora dos discursos. O restaurante estava cheio e o espaço de “manobra” para os Jornalistas não era muito. Levantei-me na tentativa de colocar o gravador no palanque. Com espaço apertado e procurando ser discreta, inadvertidamente e num ligeiro desequilíbrio, derrubei o microfone de Jorge Coelho.
- Oh minha senhora! Veja lá o que me arranja, com a sorte com que ando ainda vão dizer que também fui eu que derrubei o microfone!
Risada geral. Eu corei, com alguma vergonha e com ele a rir discretamente. No dia seguinte apresentava a sua demissão, mostrando assim o seu carater, pois, como afirmou “a culpa não pode morrer solteira!